“Estado civil: solteira(o)”… O que a Indústria e o Varejo podem ganhar com isto?

Muito mais que a “metade da laranja”, elas e eles anseiam encontrar a “laranja em metade”.

 

Dia desses, ouvi um amigo relatando, com tristeza, a morte da irmã: “Partiu para o Além, solitária!”, dizia ele. “Ela era solteirona, coitada”…

Confesso que esta frase não soou bem aos meus ouvidos. Numa era em que as famílias tomam outras configurações, que não a tradicional “pai, mãe e filhos”, em tempos de “amores plurais”, solteirice não é sinônimo de infelicidade. Às vezes, muito pelo contrário! (“Antes só…”).

Principalmente, numa visão de mercado, precisamos colocar os preconceitos no baú e abrir nossa mente para as oportunidades que surgem nesses novos tempos. Uma simples SWOT (aquela análise de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças que deve constar de todo planejamento estratégico) fará acender a luz amarela para dados demográficos que apontam o crescente número de pessoas vivendo sozinhas no Brasil.

Ano passado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que no período de 2005 a 2015, os “living alones” no país saltaram de 10,4% para 14,6% da população.

Quer seja pelo número crescente de divorciados/separados aderentes ao movimento “casamento-nunca-mais”; quer seja pela grande massa de jovens que saem cedo da casa dos pais para morarem sós (a despeito da “geração canguru”); ou pelas viúvas e viúvos cada vez mais independentes; pelos casados que vivem em casas separadas, ou ainda pelos que riscaram definitivamente a vida a dois de seus planos (os chamados “solteiros convictos”)… não importa: o que temos é um aumento exponencial de lares com um só morador. E, ao contrário dos que muitos pensam, as “solteironas”, assim, como os “solteirões”, não são aquelas pessoas fechadas para o mundo: são pessoas ativas, optantes por estilos de vida diferenciados, ávidos por novidades e personalização. Eles querem conveniências – coisas que tornem seu dia a dia mais fácil. Afinal, cuidar de uma casa sozinhos, em meio a tanto trabalho e compromissos, é tarefa difícil. Pode-se ter até uma diarista ou empregada doméstica, mas ainda assim, é preciso gerenciar a casa.

E o que a Indústria e o Varejo estão fazendo com esta informação? Muito pouco a meu ver!
Imaginem uma seção de supermercado batizada, por exemplo, de “For Alone”, ou “One to One”, “Sob Medida” ou ainda ou “Medidas Reduzidas” (esta, até dá duplo sentido), onde os sozinhos pudessem adquirir pequenas porções ou porções individualizadas de produtos – a medida exata para suas receitas, sem desperdício. Ah, nunca mais ter que comer brócolis três dias seguidos para não jogar fora é uma ideia muito boa. Ter, por exemplo, um maço de verduras variadas (um pot-pourri de alface, almeirão, rúcula, chicória etc. ) para não enjoar de uma só folha e ainda uma caixinha de apenas 200 ml de leite para aquele purezinho de batata. Ou, quem sabe, um pacotinho de farinha, na medida exata para a receita do bolo (receita esta que se repetirá só dali a alguns meses) é, acima de tudo, se sentir compreendido e respeitado em suas preferências e necessidades de consumo.

Para isso, é preciso que a Indústria adapte seus produtos a pequenos formatos. (E também estampe, no produto, o prazo de validade depois de aberto, pois os alones demoram mais para consumir…). Todo mundo sabe que o preço acaba não compensando, em função do custo da embalagem, etc., mas, é certo que os consumidores vão preferir comprar poucas porções a adquirir embalagens normais, usar pouco e ter que descartar o restante. Ou então, sair em busca de alguém para doar o que não consumiu antes que estrague.

Sei que alguns varejos já possuem uma lista de produtos assim, espalhados pelas suas gôndolas. Mas, estou falando de ter uma ala personalizada onde, além de produtos fracionados, os sozinhos poderiam encontrar também utensílios de conveniência. Kits individuais, preparados especialmente para aqueles que querem dispensar pouco tempo com afazeres de cozinha ou de casa. Quem sabe até, esse ponto da loja poderia ter uma decoração diferenciada, atraente, em consonância com a “linguagem” desse público. Poderia ter, de vez em quando, eventos com degustação ou algo assim… Um tráfego diferenciado seria atraído, com certeza!

E tem mais uma vantagem: há muito tempo, li que o supermercado era, senão me engano, o segundo ou terceiro lugar onde rola mais paquera… Conheço a história de um casal que se conheceu fazendo compras de mantimentos do mês. Bom, se a seção de produtos fracionados for bem frequentada, pode virar um “point”. Em busca de “metades”, quem sabe, alguém acaba até encontrando a outra parte que faltava…

2 Comentários
  • Kátia Fernandes
    janeiro 22, 2018

    Acho a ideia ótima!
    Moro sozinha e detesto desperdício, especialmente de comida. Então, encontrar mais produtos em embalagens menores certamente me agradaria e muito.
    E uma sessão com tudo organizado seria ideal: alimentos, embalagens e travessas pequenas, eletrodomésticos que economizam tempo e que caibam em pequenos nichos (afinal, também cresceu o número de apartamentos menores e consequentemente com pouco espaço).
    Parabéns pelo texto.

    • Sueli Rodrigues
      janeiro 23, 2018

      Obrigada, Kátia!… Que bom que você também compartilha dessa ideia! Abraço.

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